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Millie Dresselhaus, a rainha do carbono e pioneira na promoção das mulheres na ciência e na engenharia

Data de publicação: 30 de março de 2022. Categoria: Notícias

Texto de autoria do professor Antonio Gomes Souza Filho

Millie Dresselhaus foi uma das maiores cientistas do século 20 com contribuições seminais na física dos semimetais e dos nanomateriais de carbono. No entanto, esse texto irá focar na sua atuação pioneira para estimular a participação das mulheres nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (do inglês STEM: Science, Technology, Engineering and Mathematics). No Livro “Mulheres na Física: Casos históricos, panorama e perspectivas” tem um Capítulo de minha autoria sobre a vida de Millie Dresselhaus. Em 2006, a UFC concedeu o título de Profa Honoris Causa à Millie Dresselhaus.

Millie não teve vida fácil na ciência e na engenharia. Quando estudante ouviu que essas não eram áreas para mulheres. Logo depois que terminou o doutorado, ouviu de um chefe de laboratório – de uma universidade americana onde fazia pós-doc – que “uma mulher nunca poderia ser professora de um estudante de engenharia”. O ambiente pouco favorável dessa universidade e o nascimento do primeiro filho (ela teve quatro filhos) em 1960 levou Millie a buscar outras oportunidades de trabalho e foi para o MIT (ela trabalhou nessa instituição até a última semana de vida, quando faleceu aos 86 anos em 2017). No MIT, Millie encontrou liberdade para exercer sem obstáculos a sua liderança científica e para articular ações em favor das mulheres. Na época do seu ingresso como professora, o percentual de estudantes mulheres no MIT era de apenas 4%. 

Foto: Solenidade de Outorga do Título de Professora Honoris Causa. Josué Mendes Filho, Ícaro de Sousa Moreira, Paulo de Tarso Cavalcante Freire, Millie Dresselhaus, Renê Teixiera Barreira, Antonio Gomes Souza Filho

Na UFC em 2006, durante solenidade de Outorga do Título de Professora Honoris Causa. Na foto: Josué Mendes Filho, Ícaro de Sousa Moreira, Paulo de Tarso Cavalcante Freire, Millie Dresselhaus, Renê Teixeira Barreira e Antonio Gomes Souza Filho.

Em paralelo à sua premiadíssima carreira científica, Millie se dedicou a entender as razões pelas quais a população de estudantes mulheres no MIT era tão pequena e porque historicamente o rendimento acadêmico delas era inferior. Durante duas décadas Millie trabalhou nessa temática com a colaboração de colegas professoras, de líderes estudantis e da administração do MIT. Um diagnóstico inicial importante foi o fato de que a ausência de dormitórios para mulheres no Campus dificultava a vida acadêmica delas que acabavam ficando mais isoladas e menos integradas das diversas atividades fora da sala de aula. 

Identificado esse problema, foram erguidas duas residências para mulheres com recursos de uma doação feita por Katherine McCormick, uma egressa do instituto. Essa ação aliada a outras recomendações decorrentes de um estudo profundo elaborado com a colaboração da líder estudantil Paula Stone, o MIT passou a ter no final da década de 70 um percentual de mais de 40% de mulheres, percentual que atualmente é de 46% nas engenharias. 

O aumento do número de estudantes mulheres estimulou o MIT a adotar políticas para também aumentar o número de mulheres no quadro de professores e pesquisadores. Além da sua carreira brilhante na física dos materiais de carbono, as ações de Millie ganhou notoriedade nos EUA e estimulou nas universidades e sociedades científicas várias políticas para promover interesse e engajamento das mulheres no STEM. 

Característico das pioneiras, Millie foi uma mulher de muitas “primeiras”. Ela foi a primeira mulher a: receber a Medalha de Honra da IEEE (maior e mais reconhecida associação de engenheiros do mundo) em 2015, maior honraria concedida a engenheiros desde 1917; ser Professora Titular do MIT; a presidir a Sociedade Americana de Física; a receber a Medalha Nacional de Ciências na área de Engenharia; a ser diretora da Academia Nacional de Ciências; a receber sozinha o Prêmio Kavli. 

Millie tinha orgulho discreto das dezenas de prêmios e honrarias que ganhou nos Estados Unidos e no mundo. Ela doou o valor monetário (um milhão de dólares) recebido do Prêmio Kavli em 2012 para um fundo de pesquisa do MIT. Ela me disse quando nos encontramos pela última vez em 2013 (em Fortaleza) que esse gesto simbolizava a gratidão que ela tinha pelo MIT, instituição que a acolheu e a propiciou um ambiente favorável para o desenvolvimento de sua carreira com total liberdade, depois de receber alguns nãos de outras universidades pelo fato de ser mulher. 

Millie dedicou sua mente brilhante para “engenheirar” propriedades eletrônicas, termoelétricas e ópticas de vários materiais estratégicos das tecnologias de hoje e do futuro. E fez bem mais que avanços técnicos! Era incrível a sua capacidade de acolher, de integrar, de oportunizar, de estimular, de desafiar, de colaborar, de aconselhar, de guiar, de inspirar, de potencializar o melhor em cada um. E tudo isso feito sempre com alegria e paixão! Ela deu formas para o mundo dos nanomateriais de carbono e significado para a vida de muita gente. Millie mostrou que a engenharia do incluir e colaborar é a que é capaz de transformar o mundo em um lugar melhor para todos! 

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